“Não creio que viemos dos macacos mas creio que vamos nessa direção”. Talvez Gobineau tivesse razão ao afirmar isso. Se pensarmos que até a liberdade de imprensa existir no século XIX, éramos órfãos de uma identidade étnica e colonizados pelos portugueses que se permitiram influenciar por este filósofo francês e que ainda o nomearam como ministro no Brasil, certamente veremos que nossa história democrática e cultural foi e continua sendo uma importante contribuição aos Direitos Humanos.
O Brasil que ainda vive uma censura oculta “aos olhos do povo” desde o período posterior à colonização e redemocratização do país, seja política ou cultural, enfrenta um momento amargo no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa. De acordo com a organização Repórteres Sem Fronteira, estamos na 108ª posição entre os países com menores critérios de pluralismo, independência de mídia, legislação, transparência, infraestrutura, ambiente de trabalho e autocensura. Outros elementos analisados pela organização para avaliar o grau de liberdade dos veículos de imprensa vão desde a violência contra jornalistas até as leis vigentes e códigos de éticas adotados.
Embora em 2013, o Brasil que pode comemorar 28 anos do fim da ditadura e 20 anos de Liberdade de Imprensa desde sua criação, o compromisso em comunicar a verdade está cada vez mais ameaçado.
Segundo a UNESCO, o número de jornalistas mortos no exercício da profissão tem crescido cada vez mais nos últimos três anos. Em 2012 foram registradas 134 mortes e atualmente são 51, sendo quatro jornalistas brasileiros. Desde 1992, foram 26 mortos, o dobro durante o regime militar, que durou de 1964 e 1985.
Mas os tempos mudaram. E apesar dessa mortandade do jornalismo, o Brasil acordou!
Se considerarmos que o direito de comunicação é um preceito universal que precisa ser exercitado por todos e desde o período mais obscuro da imprensa e propaganda política na ditadura, leis e regulamentações foram elaboradas e instituídas à vida dos brasileiros, o Vale do Paraíba dá exemplo de liberdade de expressão sem violência. As reivindicações contra a PEC-37, aumento dos impostos e precariedade nos serviços de saúde, transporte, segurança e educação, até agora, não registram nenhum ato criminoso durante as manifestações na região.
Em São José dos Campos, a manifestação contra a corrupção do governo, foi pacífica. Jovens, estudantes e famílias foram às ruas protestar. O início da marcha social foi na Praça Afonso Pena e terminou na Dutra, quando manifestantes fecharam a rodovia.
“Amanhã só vai ser maior” enquanto professores, estudantes e a população em geral continuarem reprimindo o vandalismo e a violência, como assim começou quando milhares de paulistanos, governados por uma máquina conservadora e repressiva, ao lado de um governo federal, supostamente “progressista de coalizão”, foram às ruas protestar contra as taxas do transporte público da cidade. O resultado é este que vivemos: uma mobilização social de repercussão internacional.
O que falta ao brasileiro para chegar a ser um país livre é simplesmente agir. E este exercício deve começar em duvidar das notícias que recebe em primeira mão. É preciso buscar informação em veículos de comunicação com maior credibilidade, pesquisar dados oficiais e saber o que fazem os políticos e responsáveis de uma comunidade.
Infelizmente, vivemos em uma falsa-democracia, onde os valores jornalísticos e a população são subvertidos aos recursos de comunicação utilizados pelos empresários do setor e políticos favorecidos que tentam mascarar ou transformar a realidade de uma notícia. E nesse processo de Espiral do Silêncio, vamos todos caminhando conforme o botão que ligamos a TV, a rádio que sintonizamos uma estação ou um jornal que lemos num cafezinho.
Mas quem disse que não podemos criar alternativas também para nos comunicarmos e gerar economia no local onde vivemos? Na pequena cidade de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, depois de sofrer tantos assaltos, o município conseguiu implementar uma moeda social que agradou a população e desagradou a bandidagem.
A receita de fazer um bolo gostoso que chame a atenção das pessoas e que respeite os direitos do ser humano como cidadão é fácil: uma colher de independência e uma xícara cheia de liberdade de imprensa.
Fonte: Vale Publicar