A Mandela, com carinho

A Mandela, com carinho

A Providência Divina seria cheia de injustiça se não desse a todos nós a igual oportunidade de aprender, crescer, ajudar e progredir. Todos temos a oportunidade de fazer o bem, praticar a justiça e disseminar o amor.  Se não o fazemos por bem, voluntariamente, atrasamos nosso crescimento, nossa jornada rumo ao próximo degrau, rumo à próxima etapa. Etapa essa que só é revelada depois que deixamos essa experiência terrena. Algumas pessoas têm a capacidade de amar mais desenvolvida ou sentem uma necessidade exacerbada de amar, de agir com amor. Mandela foi uma dessas pessoas. E soube, com dedicação, resignação e fé, cumprir aqui sua tarefa com merecidas menções honrosas.

Não vou aqui repetir a extensa trajetória política de Mandela, com todos os pormenores de sua infância, formação acadêmica, luta política ou sequer sobre os quase 30 anos que ficou encarcerado numa prisão cuja cela tinha dimensões inferiores a três metros quadrados. Muito já foi detalhado sobre isso. Meu intuito, no entanto, é simplesmente agradecer pelo exemplo. Exemplo de esperança, por sempre acreditar em um país melhor, livre da segregação racial. Exemplo de resignação, por tolerar as injustiças sem esbravejar aos céus. Exemplo de perdão, por não fazer valer sua voz – enquanto presidente – contra aqueles que por séculos oprimiram seu povo. Ao contrário disso, suscitou o perdão.

Mandela, um ser inspirado pelos céus, veio executar sua missão heroica e altruísta. Em toda sua vida jamais mediu esforços ou sacrifícios para assegurar que a liberdade e o respeito entre os povos estivessem caminhando na mesma direção. Utilizou-se muito bem da oportunidade que lhe foi dada empregando seus recursos intelectuais em função do amor. Amor à humanidade, amor à sua família de 42 milhões de pessoas (a totalidade da população sul-africana), como ele costumava dizer. Agarrou as rédeas de seu destino e cumpriu sua missão nessa terra.

Vá em paz, Mandiba! Tenha uma boa viagem rumo ao próximo degrau, rumo à próxima etapa… E que seu retorno não tarde mais do que o tempo necessário – espíritos evoluídos como o seu fazem toda a diferença. Suas palavras ecoarão no decorrer dos séculos como um exemplo para todos nós.

Que o poema vitoriano de William Ernest Henley (abaixo replicado), que tanto lhe inspirou e deu forças durante a vida, sirva ao mesmo propósito a nós que aqui ficaremos com o coração cheio de saudades.

R.I.P.

“Do avesso desta noite que me encobre, Preta como a cova, do começo ao fim, Eu agradeço a quaisquer deuses que existam, Pela minha alma inconquistável.

Na garra cruel desta circunstância, Não estremeci, nem gritei em voz alta. Sob a pancada do acaso, Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada.

Além deste lugar de ira e lágrimas Avulta apenas o horror das sombras. E apesar da ameaça dos anos, Encontra-me, e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portal, Quão carregada de punições a lista, Sou o mestre do meu destino: Sou o capitão da minha alma.”

Fotos: www.nelsonmandela.org