Alunos do Alpha Lumen se classificam na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica

Alunos do Alpha Lumen se classificam na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica

Os estudantes Luan de Souza Silva e Miguel Diniz Santos foram classificados nas seletivas da mais importante Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica, IOAA – International Olympiad on Astronomy and Astrophysics. Eles farão parte da delegação brasileira que representará o nosso país na Competição Eletrônica Global de Astronomia e Astrofísica (GeCAA).

Por causa da pandemia da COVID-19, o Conselho Internacional e o Comitê das Olimpíadas de Astronomia decidiram cancelar a IOAA deste ano e organizar a GeCAA que deverá ser no formato On-Line com as categorias individuais e por equipe.

A Olimpíada

Centrado em promover o crescente interesse pela Astronomia e disciplinas relacionadas, especialmente através da educação geral de jovens, potencializando o desenvolvimento de contatos internacionais entre escolas e alunos do ensino médio, a IOAA é uma oportunidade de estudar astronomia em nível universitário para aqueles que desejam se tornarem os astrônomos da próxima geração.

Participantes de diversas nações durante a prova de análise de dados durante a IOAA. Foto: Divulgação/2011.

Na Categoria Individual, cada participante deverá comparecer nas três rodadas de teste online. Um teste será baseado em problemas teóricos, um em problemas de análise de dados e outro em problemas de observação. As rodadas desta categoria serão realizadas nos dias 25, 26 e 27 de setembro de 2020 e cada teste terá de 02 a 03 horas de duração. Já na Categoria de Equipe, os participantes serão agrupados em times internacionais mistos pelos organizadores e terão um conjunto de tarefas para resolver de forma colaborativa. As equipes receberão as tarefas em 28 de setembro de 2020 e deverão apresentar suas soluções até 12 de outubro de 2020. Em ambas as categorias, os participantes receberão certificados pelo desempenho que indicarão seu nível conhecimento.

Para conseguirem a classificação na Olimpíada Internacional de Astronomia foi preciso muito esforço e determinação. Além de aprender a controlar os nervos para realização das provas, os estudantes tiveram que passar por alguns desafios e uma série de treinamentos com diversas listas de exercícios e provas com as melhores pontuações na OBA – Olimpíada Brasileira de Astronomia. Neste caso, é necessário obter uma nota superior a 7, depois tem a etapa online da seletiva com três fases e somente cerca de 200 pessoas são selecionadas para a próxima etapa na Barra do Piraí, onde os estudantes ficam quatro dias para concluir cinco provas: duas provas teóricas, uma prova de carta celeste, outra de planetário e, finalmente, a prova observacional em céu real.

Geralmente, 25 estudantes são classificados para o treinamento, mas este ano o comitê da OBA aumentou para 46 com aulas e listas de exercícios online, valendo nota para a classificação no IOAA e OLAA – Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica. Em 2020, apenas 20 pessoas passaram para a GECAA. Dez para a prova em equipe, dez para a prova individual.

Tudo é possível com determinação e foco

Exemplo de superação e genialidade, aos 17 anos, Luan Silva conta que a jornada até a classificação foi bastante longa, e teve seu início em 2018. “Eu estudei bastante naquele ano, para fortalecer a minha base em matemática e física, já que antes de entrar no Alpha Lumen, meu conhecimento nessas matérias era precário e eu nunca havia participado de uma olimpíada antes, então eu comecei a estudar ainda mais, e aí eu descobri uma nova área da matemática: O Cálculo diferencial e integral.”

Luan Silva na etapa presencial da seletiva deste ano, Barra do Piraí, RJ. Foto: Arquivo/Divulgação

Ao todo são 26 medalhas, sendo 3 delas esportivas e 16 em olimpíadas, Luan já acumula 54 certificados, dividido entre certificados olímpicos e certificados do escoteiro. Sua paixão pelos números é tão grande que até um livro de Cálculo ele já começou a escrever e revela: “Já está com mais de 100 páginas!”. Mas nem todas as suas conquistas são só de exatas: Duas delas foram as medalhas na OBG – Olimpíada Brasileira de Geografia), sendo uma de bronze e uma de ouro, um certificado por ter chegado na semifinal da OBRAC – Olimpíada Brasileira de Cartografia, Ouro na ONC – Olimpíada Nacional de Ciências e outros dois certificados da OBB – Olimpíada Brasileira de Biologia.

Com seu pai desempregado e sua mãe trabalhando como estagiária em uma escola municipal, Luan que é morador da periferia de São José dos Campos, precisava acordar bastante cedo (5:30 da manha) para pegar ônibus às 6, e chegar na escola às 7:50. Para ele, o trabalho duro vence o dom natural. “Geralmente eu ficava na escola até as 18 ou 19h e chegava em casa às 21h, e após esse horário ainda tinha que comer, tomar banho, etc, para então fazer as tarefas e estudar para olimpíadas e afins”. Sendo assim, eu ia dormir em torno de 2h da manhã. Essa rotina era de segunda a sábado, e por isso eu acabava ficando bastante esgotado.” Apesar disso, ele conseguiu a 23ª posição no Ranking geral na Olimpíada Nacional de Astronomia da Estônia.

“Atualmente eu tenho uma rotina mais leve. Acordo às 8h e vou estudar às 9h. Durante as aulas, geralmente eu estudo para a olimpíada ou escrevo o meu livro, nos intervalos eu faço atividade física. Às 13h eu almoço e estudo e depois passo à tarde/noite toda estudando. Exceto sexta, já que eu dou aula de física para os meus colegas às 14:30, depois eu vou para a neuropsicóloga e para a psicologa.”, conclui o jovem classificado na Modalidade de Equipe para a IOAA, onde terá a oportunidade conhecer pessoas de diversos países. “O único problema de se fazer prova online, é que como a minha internet é bem limitada, demora muito tempo para enviar arquivos, então eu tenho que organizar meu tempo muito bem para conseguir enviar as resoluções.”

Luan Silva (ao centro) estudando para a prova de Carta Celeste com os amigos e o professor Júlio no Planetário do CIENTEC, SP. Foto: Arquivo/Divulgação.

Se para o Luan, que não por acaso seu nome foi escolhido em virtude da Lua e o desejo pela área de ciências se deu por causa do filme Wall-E que serviu de inspiração para aprimorar espectroscópios caseiros e construir seu próprio radiotelescópio, para Miguel Santos, 18 anos e também aluno do Alpha Lumen, a curiosidade sobre o funcionamento das coisas ao seu redor e as explicações por trás dos fenômenos e suas descrições foram o que despertaram uma tendência para a busca das Ciências Naturais e Exatas.

As escolhas que fazemos naquilo que acreditamos

Miguel também estudou em escola pública e até poder fazer parte do Clube dos Sonhos e estudar no Projeto Escola do Instituto Alpha Lumen, teve muita dificuldade de acesso, incentivo ou mesmo oportunidades reais de buscar e aprender mais sobre Astronomia e Astrofísica. “O IAL foi responsável por uma completa mudança na minha vida. Graças a ele eu saí de minha escola pública e tive acesso a uma nova forma de ver a vida, a valores e propostas diferentes de ensino. Desde a postura em sala de aula, o sentimento de união dos alunos, até a forma de encarar a vida, foi tudo fruto desse novo ambiente com professores extraordinários”, nos conta o jovem Miguel que faz questão de reforçar que sem colaboração com alunos talentosos e interessados ele jamais teria tido tantas conquistas e tampouco pensaria da mesma forma sem as pessoas que compõem esse instituto.

Filho de uma professora de Balé e pai escrevente de um cartório de registro de imóveis, Miguel já possui 33 premiações em Olimpíadas Científicas, sendo 31 delas na área de Exatas. E foi com a medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia que ele alcançou o desafio de participar das Seletivas para as Olimpíadas Internacionais de Astronomia. Mas antes disso, ele teve que fazer uma escolha e desistir de um outro sonho que era participar da competição de robótica no EUA pelo Time Alphabots #1860. Resultado, com mais tempo de preparação e estudo, tudo ocorreu da mesma forma: medalha de Ouro na OBA, etapa online do processo seletivo, etapa presencial, e finalmente a classificação.

Da esquerda para a direita: Miguel, Flavio, Luan, Talita, Leonardo e Gabriel em jantar, após um dia de provas na Barra do Piraí, RJ. Foto: Arquivo/Divulgação

O jovem talentoso que também irá integrar à Equipe Brasileira vai competir na modalidade individual e por isso segue firme no treinamento e explica como estão seus estudos durante a pandemia: “Um pouco atribulados. Se por um lado, com o menor tempo gasto em locomoção e trajetos, há mais disponibilidade para o estudo, mas também é inevitável o impacto mental causado pelo atual contexto, como o cansaço, desânimo ou até mesmo um sentimento de falta de sentido. Algo como se estou vivendo uma pandemia, por que deveria sentar na cadeira e estudar por horas e horas no meio de tudo isso?”.

Apesar de tudo, o estudo também serve como uma válvula de escape porque ajuda a mudar o seu foco de pensamento: “O entusiasmo com as informações e novos entendimentos novos vão crescendo, e então as coisas fluem mais naturalmente, até que no final do dia, surge aquele sentimento de satisfação por ter conseguido progredir.”

A mudança já está acontecendo

Engana-se o leitor em pensar que esses jovens de mentes tão complexas tenham sonhos absolutamente diferentes. Tanto o Luan Silva que o leitor teve a oportunidade de conhecer logo no início dessa reportagem, quanto o Miguel Santos, ambos tem o mesmo objetivo: “fazer um mundo melhor”.

Luan, que este ano participa da Comissão e Coordenação da OIMC – Olimpíada Internacional de Matemática e de Conhecimento e que busca ser bastante inclusiva, pretende ser um pesquisador na área de astrofísica e contribuir com a educação de outros jovens interessados. “O meu objetivo não é crescer financeiramente. Eu vou fazer o máximo pra que todos os meus trabalhos sejam disponibilizados gratuitamente e trazer conhecimento para as pessoas”.

Miguel, que ainda não sabe ao certo com o que irá trabalhar tem a certeza, no entanto, de que para melhorar as condições do nosso planeta é preciso direcionar os esforços no impacto da educação e formação dos indivíduos. “Acredito que por ter estudado em escola pública, e posteriormente ter tido a chance de entrar no IAL, é impossível eu deixar de pensar no que teria acontecido comigo se eu não tivesse encontrado essa oportunidade única, e em quantas pessoas infelizmente não a tem.”

Algumas estrelas que rasgam o céu passam em um piscar de olhos, mas no Alpha Lumen elas deixam marcas e brilham para sempre. Observamos isso com muita atenção quando podemos contar histórias de jovens como o Luan Silva e Miguel Santos.

Parabéns, meninos! E boa sorte!


FONTE: Jornalismo Colaborativo